14 July 2012

O Higgs foi descoberto. O que acontece agora?

O anúncio da descoberta do Higgs foi feito com grande cautela. Os dois grupos, ATLAS e CMS anunciaram a descoberta de uma partícula de massa entre 125 e 126 GeV que possui propriedades semelhantes aquelas previstas para o Higgs do modelo padrão das partículas elementares. Ainda é necessário verificar se essa partícula possui todas as propriedades que o Higgs deve ter e para isso é necessário acumular mais dados experimentais no LHC. Uma propriedade importante é  o spin da partícula. O Higgs do modelo padrão tem spin zero. Os dados do LHC mostram que a partícula descoberta é um bóson (possui spin inteiro) e o fato dela decair num par de fótons indica que ela pode ter spin 0 ou 2. Como é muito difícil produzir partículas de spin 2 num acelerador acredita-se que o spin da partícula é 0. Mas mesmo determinando-se que se trata de uma partícula de spin 0 poderia não ser o Higgs do modelo padrão. 

O Higgs do modelo padrão deveria decair em partículas tau cerca de 6% do tempo mas aparentemente a taxa detectada é bem menor. Ainda é necessário a coleta de mais dados para termos certeza que essa taxa de decaimento não é devido a uma mera flutuação estatística.  Se for confirmada, indicaria a existência de um Higgs de uma teoria que não é o modelo padrão usual, mas sim de uma extensão do modelo padrão. 

De acordo com o modelo padrão o Higgs é a partícula responsável pela massa de todos os bósons (partículas com spin inteiro) e férmions (partículas com spin semi-inteiro). Mas se o Higgs não está decaindo em taus, que são férmions, ele provavelmente não está gerando massa para eles, e talvez gere massa apenas para os bósons. Nesse caso, seria necessário um mecanismo para gerar massa para os férmions também. Esse mecanismo existe e é conhecido como supersimetria. Se confirmada a ausência de decaimento do Higgs em taus teríamos uma forte indicação da existência da supersimetria. De fato a supersimetria prevê a existência de mais de um Higgs. 

Outro dado anômalo é o decaimento excessivo do Higgs em dois fótons. Novamente, é necessário mais dados para se ter certeza que não se trata de uma flutuação estatística. Se confirmada, indicaria que outra partícula estaria sendo produzida junto com o Higgs. Essa nova partícula poderia muito bem ser um dos outros Higgs previsto pelas supersimetria. A existência da partícula supersimétrica associada ao tau, chama stau, poderia explicar o excesso no decaimento em dois fótons. 

Steven Weinberg afirmou que o pior pesadelo para a física de partículas seria se o LHC encontrasse apenas o Higgs do modelo padrão. Sabemos que o modelo padrão necessita ser estendido e sem dados experimentais não há como saber em que direção estende-lo. Vamos aguardar para saber se essas anomalias realmente existem. Com os dados acumulados até o final de 2012 será possível termos uma ideia mais clara do que está acontecendo.

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