08 March 2007

Os dois lados da medalha

Na última reunião da Congregação do IFUSP o presidente da Comissão de Pesquisa do instituto referiu-se de forma extremamente jocosa e desrespeitosa aos docentes que possuem bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq e que participam de projetos temáticos da Fapesp. Afirmou que eles são priorizados na distribuição das bolsas de iniciação científica do PIBIC apenas por possuírem "medalhas no peito". Ilustrou suas palavras pretendendo colocar medalhas no seu próprio peito. Cena chocante para uma universidade como a USP! Apesar dos protestos de membros da Congregação nenhuma retratação foi apresentada. Afinal, as palavras poderiam ter sido mal escolhidas e não refletir a posição do presidente da comissão de pesquisa. Mas o que se presenciou a seguir foi um silêncio absoluto, confirmando suas convicções.

Em quase toda universidade existem grupos de professores que tentam inverter a escala de valores acadêmicos. Usualmente requerem tratamento igualitário para os desiguais e procuram a todo custo denegrir a imagem dos colegas que obtém sucesso. Querem, por exemplo, que bolsas e verbas sejam distribuídas eqüitativamente entre grupos de pesquisa bem sucedidos e aqueles sem expressão. Querem que todos os docentes tenham os mesmos direitos e obrigações, numa afronta à escala hierárquica que é a razão do sucesso das universidades desde seus primórdios. O objetivo é sempre o mesmo: promover o ensino e a pesquisa de baixa qualidade. Transformar a universidade num mero escolão de terceira categoria e a "pesquisa" numa atividade diletante sem nenhum profissionalismo. Por isso mesmo é muito fácil identificar os locais nos quais o baixo clero predomina. São aquelas instituições inexpressivas e de baixa categoria. Por outro lado, na maior parte das universidades públicas de sucesso, os docentes com bolsa de produtividade em pesquisa, projetos temáticos, institutos do milênio ou pronex, são altamente prestigiados e sempre assumem posições de liderança, como presidências de comissão de pós graduação e de pesquisa. Isto não acontece no IFUSP. Depois desta reunião ficou a sensação de que devo me envergonhar de ter projetos de pesquisa que se destacam. Que devo esconder o fato de ter bolsa de produtividade em pesquisa. Que devo, enfim, me nivelar por baixo. Pobre IFUSP. Mas pensando bem, a última reunião da congregação rendeu uma medalha, uma medalha para o baixo clero.

1 comment:

Tom said...

Enquanto a universidade não for meritocrática, enquanto não forem os melhores que ocupam cargos importantes como ser professor de uma instituição pública, essa politicagem digna de uma republiqueta, que reina nas assembléias daí, nunca vai acabar.

"Monteiro Lobato dizia: "Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil". A saúva das universidades públicas é o corporativismo personificado nos sindicatos docentes. Os muitos docentes dedicados e produtivos, que não têm tempo nem paciência para agüentar a politicagem e as manobras nas minguadas assembléias, não são representados por essas associações. Já é hora de nos livrarmos dessa praga."

Moysés Nussenzveig, Universidade democrática é meritocrática